quarta-feira, 4 de março de 2009

Caiu na rede não é peixe: é aluno.



Não se confunda não. O ditado popular que você conhece não mudou não. Continua o mesmo. Estamos em uma nova era, uma nova fase da sociedade que os teóricos da sociologia chamam de "Sociedade da informação e do conhecimento". Estamos na era digital.
Não dá mais para virar as costas para esta nova realidade e identidade social. Já não cabe mais argumentos do tipo: "isso não é para mim, minha geração é outra", "computador é um bicho" ou outros de mesmo teor.
A realidade "não está mais à nossa porta", está dentro de nossas casas, na esquina bem próxima e se não estiver na próxima esquina, estará no nosso bairro, estará em outros espaços como em nossas escolas. É o ciberespaço. Para a Wikpédia, "é um espaço de comunicação que descarta a necessidade do homem físico para constituir a comunicação como fonte de relacionamento, dando ênfase ao ato da imaginação, necessária para a criação de uma imagem anônima, que terá comunhão com os demais".
Este espaço já faz parte do cotidiano de muita gente e cada vez mais é uma ferramenta usada nas escolas. Mas não basta ter um laboratório de informática se a escola não dispõe de um profissional qualificado para fazer uso da mesma.
Não se pode mais negar e fechar os olhos para a grande quantidade de alunos que chegam às nossas escolas com uma linguagem "internetêz". Alunos com habilidades novas, com uma velocidade interativa inigualável, com novos mecanismos e estratégias de racicínio cognoscível.
Professor que não domina esta nova cultura "fica para trás", é "deletado". temos que acompanhar os avanços tecnológicos, fazermos comunhão com eles não de forma coercitiva mas como necessidade que nos é pedida licença para adentrar em nossa vida e em nossa prática pedagógica.
Aula chata hoje é aquela que não interage, que não fala a mesma língua dos "usuários" da sala de aula.
Nesta sociedade informacional e do conhecimento temos os riscos de nela habitarmos também. Os laços que nos unem, podem nos desunir também. As redes que a todos interconectam, isolam também. O mundo virtual tem estes perigos. o próprio conceito de Ciberespaço pode ser uma grande armadilha. Volte ao conceito acima e reflita.
Pessoas que vivem em redes podem correr o perido de uma não aproximação íntima com os seus pares. Falamos nos bate-papos e corremos o perigo de não nos atrevermos mais na dinâmica do encontar com o outro, de ouvir a sua voz, traduzir em sensções o que os olhos falam, o que não dá para fazer em uma tela fria de computador.
O que dizer das muitas identidades anônimas que são iseridas na virtualidade da vida?
Quero aqui compartilhar dos exemplos da minha experiência com relação ao que acima descrevi.
Quase todas as pessoas tem orkut, até mesmo você que agora lê esta postagem, pode como também não pode ter um. Bom, visitando as páginas de meus "amigos' no orkut me chamou a atenção a foto de um rapaz bem apessoado e resolvi "add" em minha rede de "amigos" neste site de "relacionamentos". Mas como o rapaz era muito simpático, não que tivesse tivo a má educação, pois não era a intenção, resolvi perguntar se o rapaz da foto era ele mesmo. em resposta o rapaz disse que sim e se eu não acreditava que era ele por ser tão bonito que simplesmente eu podia deletá-lo.
Confesso que fiquei "puto da vida". Ferido em meu amor próprio. nossa, passei o dia inteirinho chatiado com aquilo e a mensagem na mente: "simplesmente pode deletar". Poxa! Simplesmente? É assim tão fácil?
caindo em mim e de fato metaforicamente também porque o tombo e o peso da minha cosciência sobre mim me fez despertar e pensei: "Como pode alguém que não faz parte da minha vida, dos próximos a mim, alguém que não é do meu estado, da minha cidade, do meu bairro, da mina rua, não é meu vizinho, alguém que "conheci" por acaso, num site de relacionamentos mexeu com minha raiva a ponto de me deixar chateado assim?
O fato é que pecebi que meus sentimentos estavam travestidos e invertidos embora não deixassem de ser sentimentos verdadeiros. Eu chamo estes sentimentos de infosentimentos.
Outro fato aconteceu ontem. Estava na Igreja para participar da missa e ao meu lado sentou uma amiga de paróquia. Com o celular na mão conversava com alguém e dizia: "tu tá onde?". Chegou a mim e perguntou se eu tinha vergonha de atravessar o espaço da igreja e me colocar em um outo banco e eu respondi que não, então ela se levantou e foi encontrar com quem estava falando ao celular. A pessoa estava no banco ao lado. Só não foi muito infeliz porque ambas se encontraram. O pior seria se estando no mesmo ambiente, continuassem a falar no celular e não ir ao encontro. Mas isso acontece.
As distâncias são encurtadas mas o frio permanece. Os relacionamentos não são mais duráveis. Eu posso entrar e sair da sua rede quando julgar que não quero mais me manter "logado" com outrem, aí basta "deletar" e desconectar. Zigymunt Bauman, sociólogo polonês fala de uma "sociedade líquida" para esclarecer este novo jogo de valores.
E cada vez mais "líquida" a sociedade está ficando.

Luciano Medrado. (Graduando em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus Universitário de Jequié/BA.)

Um comentário:

  1. Oi Luciano! Que reflexões profundas e verdadeiras sobre a cibercultura. Não dá mais para a escola ficar longe desse debate. A interação é a mola mestra da sociedade em rede que estamos vivendo.

    Muito boas suas reflexões.

    Socorro

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