sábado, 16 de maio de 2009

FORMAR-SE PARA A MUDANÇA E A INCERTEZA


Diante dos desafios aos quais nos são impostos pela sociedade da informação e do conhecimento, da passagem da sociedade do letramento tradicional para a sociedade do letramento virtual faz-se necessário compreendermos as implicações que nos são impostas a este novo modelo que está sendo pautado e escrito em nossa sociedade globalizada.

A escola já não é a mesma, por conseguinte as suas demandas também não o são. Pensando assim que PEREIRA* auxiliada por IMBERNÓN nos ajuda a compreendermos que a partir das problemáticas vivenciadas na sala de aula que os profissionais da educação podem fazer uma análise individual ou coletiva do seu trabalho para buscarem mudanças pertinentes dentro do seu contexto tendo a prática como ponto tanto de partida quanto de chegada para analisar e por fim interiorizar a situação de incerteza e complexidade que caracteriza a profissão docente.

Sendo assim, PEREIRA nos convida a viajarmos na obra do professor IMBERNÒN, encaminhando-nos numa compreensão da formação docente do século XXI. Para PEREIRA citando IBERNÓN, afirma que o profissional da educação deve neste século de mudança e incerteza buscar assumir uma nova postura frente ao seu trabalho docente, uma vez que este deve ser permeado pela autonomia, na tomada de decisões educativas, éticas e morais para que o profissional da educação possa romper uma vez por todas com a dimensão meramente técnica e unidirecional de sua formação que permeou e imperou durante todo o século XIX para um salto de abordagem profissional em sintonia com os desafios contemporâneos.

Sendo assim, PEREIRA aponta-nos algumas mudanças que deveriam ser implementadas na formação do professor. A primeira mudança refere-se aos conhecimentos objetivos e subjetivos, afirmando que o trabalho com as atitudes procedimentais, ou seja, com o que fazer é tão importante quanto o trabalho com os conteúdos. "Se eu tenho os conteúdos em mãos é preciso saber primeiro o que fazer com eles". Em seguida é preciso que fique claro que a aquisição dos conhecimentos nunca é linear e sim ampla e complexa, sempre necessitando de interiorização, experimentação e adaptação a novos padrões. De acordo com PEREIRA amparada por IMBERIÓN, "estas mudanças proporcionariam uma formação docente baseada no desenvolvimento de aprendizagens pautadas na relação, na convivência da cultura do contexto e de interação de cada pessoa com o resto do grupo, com seus semelhantes e com a comunidade que envolve a educação", conclui.

Por isso, que a formação docente deve centrar-se em situações problemáticas vivenciadas no espaço de trabalhos para melhor significar sua atuação enquanto profissional da educação.

Se estas situações problemas não se apresentam, o profissional pode correr o risco de sua atuação se tornar estéril pois não será desafiado por mudanças significativas na sua postura em sala de aula uma vez que não foram apresentadas a ele desafios que o impulsionem a melhor gerir sua prática escolar e profissional, o que levaria a encontrarmos profissionais em estado de torpor constante "batendo ponto" nas cadernetas escolares e de freqüência da sua presença na instituição.

Sendo assim, compreendemos a importância do conhecimento profissional docente, do conhecimento pedagógico específico para desembaratarmos este tipo de prática que ameaça a sobrevivências das nossas escolas públicas que podem ficar relegadas a um contexto de apatia, de mediocridade frente a prática reflexionante, ao descaso, as relações de poder que estão dilacerando a autoridade escolar uma vez que estas se apresentam vitimadas pelas leis que amparam ao aluno numa analogia empresa/cliente onde o cliente tem sempre a razão e assim a escola fica refém de pais de alunos que vão a escola somente para discutir a relação de brigas entre colegas mas nunca o aprendizado do aluno. ISTO É DE UMA EXTREMA VERGONHA E ESTUPIDEZ FRENTE AO VERDADEIRO PAPEL QUE DEVE SER CONSTUÍDO ENTRE PAIS E ESCOLA/ ESCOLA E PAIS DE ALUNOS!

A formação para a profissão docente deve contemplar e construir um conhecimento pedagógico que possa superar a formação de caráter assistencialista e voluntarista pautada numa adaptação dos indivíduos à ordem social para migrar para uma formação pautada numa bagagem sólida nos âmbitos científicos, cultural, contextual, psicopedagógico e pessoal, capacitando assim, o profissional da educação a assumir a tarefa educativa em toda a sua complexidade convertendo o conhecimento profissional em conhecimento experimentado por meio da prática.

Esta nova postura leva-nos a compreender que a formação docente incerta e mutante deve sempre responder as necessidades definidas pela escola – quando estas têm claras as necessidades primárias – em busca de uma melhor qualidade de ensino e aprendizagem o que só será possível com um sério comprometimento do que venha a ser o papel político pedagógico da escola que deve ser transposto das páginas amareladas do papel engavetado e maquiado pelos discursos estéreis e enganadores de gestores escolares para os seus supostos interventores que parecem ser burros e imbecilizados diante de tanta fantasia do quadro escolar que são a eles apresentados. Quanta mentira, sala de aula pode ser um calvário onde a ressurreição nem sempre pode chegar.

Por isso a escola precisa ser apresentada como uma manifestação de vida em toda a sua complexidade, fechar os olhos a esta realidade e "passar a mão pela cabeça" e não querer enxergar suas situações desafiantes é se colocar na condição de cego guiando outro cego porque ambos cairão no buraco. Por isso que os processos formativos de todo o corpo docente de cada escola deve habilitar o profissional da educação a saber mapear as dificuldades encontradas, buscando estabelecer reajustes profissionais que extrapolem a sala de aula e a escola porque entendemos que a profissionalização deve está atrelada também a causas sócias e familiares que entram em jogo na dinâmica da escola bem como da sala de aula. Pois entendemos que uma sociedade doente, uma família desestruturada pode gerar uma escola doente e desestruturada internamente o que refletirá em cada classe do âmbito escolar. Assim entendemos que toda mudança deve acontecer individualmente, coletivamente e, por conseguinte institucionalmente.

*Socorro Cabral Pereira, Pedagoga pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Campus Universitário de Jequi/BA e Mestra em Educação pela FACED / UFBA.
** Texto adaptado por Luciano Medrado, Graduando em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Campus Universitário de Jequié/BA.

Um comentário:

  1. Luciano,

    Suas leituras e reflexões são de extrema pertinência. A escola precisa sim ser totalmente redirecionada, ou quem sabe detonada para começarmos uma outra lógica de trabalho.
    Socorro

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