domingo, 28 de junho de 2009

VIAGENS PEDAGÓGICAS



Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. às vezes trazemos conosco tanta bagagem, tantas teorias, tantos ensinamentos. Não que eles não sejam necessários mais é que muitas vezes pesam quando não sabemos usá-los. Excedem aos tamanhos permitidos.

Já imaginou chegar a rodoviária carregando o colchão para ser despachado? O amontoado de livros? As perguntas são muitas...

Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida e tenho vontade de recobrá-la, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada. Estas e tantas outras inquietações norteiam a cabeça de muitos educadores quando estão em sala de aula depois de um longo período em um curso de Pedagogia.

É nessa hora que descubro que partir para a estrada a ser trilhada fora dos muros da universidade é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto e o desencanto da viagem.

Viajar é descobrir o mundo que não temos. O mundo que foge às nossas teorizações acadêmicas. Ele é mais complexo, mais caótico. Viajar longe dos muros da academia é o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.

A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A sala que agora está vazia, os colegas que agora procuram os seus espaços, as teorias que agora precisam ser refletidas e reflexionadas em lócus.

A distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo.

Ao ver o mundo que não é meu, mas que ao mesmo tempo é próprio a mim, tão particular que o trago dentro, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. Este território que é minha inexplicável excentricidade. Onde encontro com meu espaço preenchido de vontades a serem dadas vazões na ânsia de por em prática todo e em partes o que foi aprendido nos anos acadêmicos.

Mas os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias tão pertinentes na Universidade, não que elas não tenham sido necessárias. Mas agora é hora de pensar e pisar no chão da realidade...

Andar na direção do outro seja ele quem for (Outro que deseja sempre aprender. Outro que ensina e aprende. Aprende e ensina. Alunos e Mestres que são mestres de alunos que uma vez são também aprendizes e mestres ) é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Nem sempre conseguimos levar tudo. Durante a viagem muitas outras coisas se agregam, ensinamentos dos quais vamos precisar.

Mas ao adentrar o território alheio, seja de alunos ou de mestres quem sabe assim os nossos olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é nosso também a partir da devida licença que nos for dada para adentrar. E se entrarmos cabe a cada um de nós fazer deste território mais humano. Porém, não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro.


Luciano Medrado (Graduando em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus Universitário de Jequié/BA.)

2 comentários:

  1. A realidade extra-muro da universidade nos interpela e impulsiona nossa vontade de mudar e encontrar o "novo". Esse sim é revelador e desafiador. A experiência fora do ambiente acadêmico, depois de 04 anos na graduação, faz-se necessária, pois há de se considerar a Universidade como um espaço salutar para a construção do conhecimento e que precisa assumir as três dimensões básicas, quais sejam: ensino, pesquisa e extensão. A sociedade espera de nós, recém saídos dos bancos universitários, compromisso com o conhecimento aprendido e ressignificado, atitude investigativa e sobetudo retorno social. E isso nossa atuação extensiva, em qualquer que seja o espaço onde iremos desenvolver nossas atividades, deverá dar a resposta. Joelson

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  2. Luciano,

    Gostei muito quando vc disse:" o mundo foge às nossas teorizações acadêmicas. Ele é mais complexo, mais caótico. Viajar longe dos muros da academia é o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence." Vc acertou na mosca. Não dá para querer compreender a prática a partir de uma teoria. Esse movimento não pode ser unilateral. Ele é tenso e complexo. Só as problemáticas da prática pedagógica, é que possibilitam a articulação com as teorias e sua real significação.

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